terça-feira, 31 de outubro de 2017

Texto Capazes - As Mulheres que são de Deus



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"O voto de obediência impede irmãs de reclamarem para si um lugar que PODE e  DEVE ser seu: mas os leigos não estão impedidos de servir essa luta POR ELAS. A de termos irmãs a celebrar, de termos bispas.
Sonho com esse dia.
Talvez já não esteja cá para ver Bispas num sinodo, ou uma Papa, mas não faz mal.
Acredito que um dia a Igualdade também chegue à minha Igreja e, se assim for, quando esse dia chegar, eu vou dançar lá no Céu."



Texto Capazes - Carta Aberta a Costança Urbano de Sousa



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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Da vida do corpo




Gostava de te puder contar coisas;
que o sol já não se chama sol,
nem a lua, lua
nem os montes são mais habitados por flores nem por homens.

Gostava que soubesses que aqui
os rios deram lugar a pedras
e as pedras lugar a um chão que não existia antes
- mas que continua a chamar-se chão.


Queria dizer-te que o Amor morreu.

Sobrou-nos o corpo,
e é a ele que temos quando queremos chorar,
porque as pernas continuaram a ser pernas, e os braços, braços,
e as mãos, mãos
e ainda nos sobrou o toque que podemos fingir ser
o que um dia perdemos para sempre.


Quando as nuvens baixam até ao mar, o frio já não vem.


Quando o Fim acontecer,
vou procurar a pureza do teu pescoço, que tantas vezes conheci nu,
e contar-te o que sobrou de nós
quando nos encontraram mortos na sala de estar.



quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Às vezes só a minha cara é que é triste







Às vezes só a minha cara  é triste,
porque o meu nariz e a minha boca não são.


Às vezes só a minha cara é que é triste,
porque as unhas,
o pescoço quase flácido de tempo
e as minhas mãos: nenhum deles se deixa entristecer.


Às vezes só os meus pés: tristes,
porque a pele e as pernas que vão dar aos pés não aceitam a tristeza que lhes querem dar.


Às vezes só a minha orelha esquerda é triste,
pelo que ouve na rua
e o que ouve torna-se um problema para a boca na minha cara que deixa de querer falar,
porque deixa de querer ser a minha boca.


E assim a boca da cara diz-me que só se abrirá por mais um dia,
(não sabe se para falar ou só para abrir os lábios já colados pelo tempo doce da amargura)

- só mais um dia, nessa tentativa de pronúncia 

um dia, longe

para entrarem os bichos debaixo da terra
e ela se deixar ir com eles.




terça-feira, 3 de outubro de 2017

Não há um único dia em que não me lembre de ti




Para Andreia Vaz





Não há um único dia em que não me lembre de ti.

De como te sentavas na mesa da sala de jantar para comermos os nossos ossos;
(nós cozinhávamos-nos  porque só nos tínhamos um ao outro)

a cartilagem morta que a boca achava entre os dentes era delicadamente atirada para o garfo pela língua,
com a mão à frente, de olhos baixos,
como se estivéssemos a pecar.

A cartilagem cirurgicamente colocada à beira do prato sem chorar,
como se não tivesse direito a entrar em nós, ser alimento

(isso éramos nós os dois )

mas não sem antes sorvermos a sopa, com o olhar fixo um no outro
 sem se ver a nossa cara até ao nariz:
a cara anulada pela malga do jantar.

Não há um único dia em que não me lembre de ti.

Eu enquanto preparava o jantar,
a ver-te sentado à televisão há espera que existisses.
(às vezes acho que querias existir na minha vida, só não sabias como e eu também não)

E todos os dias do mundo te quero saber morto.






terça-feira, 19 de setembro de 2017

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

sábado, 29 de julho de 2017

Cuspo




Dizem que quando morremos o sol se transforma num enorme espinho de mar sem tecto; porque sem chão e porque sem sitio para sentar já que só a palavra diz a morte.

Dizem que quando morremos deixamos de dizer olá para dizer adeus, e o adeus é um veneno letal no outro; no outro que também morre mas fica mais um pouco.

Dizem por ai que vais atravessar o sol daqui a pouco,  quando o relógio disser Tempo; e quando o relógio disser Tempo nunca mais se faz abraço.

Dizem que um dia quando morreres te vou esquecer como se a memória me falhasse de ti, assim como esquecemos de trazer o esparguete para casa -  mesmo tendo escrito na lista de compras do supermercado a sua falta.

Eles dizem.
Mas eles não sabem nada de nós.

domingo, 18 de junho de 2017

Participação em Festival




Agradecer a todos aqueles que nos últimos dias têm sido incansáveis nas preocupações de saúde que tenho sofrido.

Infelizmente fui desaconselhada a voar para Paris para assistir à exibição do documentário do "Padre das Prisões" no Festival Europeu televisivo de programas religiosos, que ocorreu no passado dia 16, e pôs a marca dos documentários portugueses na edição de um festival televisivo tão significativo.
Em 35 anos, nunca tinha sentido o peso de abdicar de uma realização tão especial nem de me faltarem as forças para concluir um sonho.


Mas dizem que sobreviver a uma desilusão sempre nos torna mais fortes.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Quase Paris






É que se eu me sentasse eu não tinha pernas,
se eu me deitasse não havia corpo que se deitasse comigo
(comigo lá dentro porque aquele era o meu corpo e um corpo tem de nos ter lá dentro para sempre até morrermos; e não nos pode deixar sair nunca, ainda que sejamos nós a pedir-lhe)

- nós nunca podemos sair.

E.   
É que tu eras tudo, sabes? Como na Bíblia: ”O Princípio, o meio e o fim”.
Tu eras esse princípio, esse meio e esse fim, e eu não sabia que sem ti eu podia andar, que sem ti eu podia
  comer, que sem ti eu me podia vestir; como na Bíblia, os lírios do campo não têm que se preocupar com a roupa porque já estão vestidos, e bonitos, e brancos.
(eu podia recitar-te a Bíblia toda se soubesse que ficavas, daríamos passeios tolos de mãos dadas em Belém e tu cantavas para mim: não, nós não andaríamos de mãos dadas em Belém, andaríamos de pés dados porque connosco é diferente; e tu não cantarias para mim, só me enfiavas num quarto para que eu escrevesse, para que eu escrevesse sempre)


E.
E eu gostava do teu quarto.
E o que eu gostava de ti.


domingo, 4 de junho de 2017

Formação "Falar em público"


Foi o fim da formação "Falar em público" com mulheres guineenses da Asso Filhos Amig Farim.
Espero sempre que as/os minhas/meus formandas/formandos aprendam tanto como eu no decorrer de cada sessão. Hoje foi o nosso último dia juntas....e as #Capazes deram uma ajuda extra à felicidade com as suas t-shirts.
Obrigada Capazes, you all rock! #juntas

Formadora: Inês Leitão










sexta-feira, 2 de junho de 2017

Para o meu querido Tiago




(Para o Tiago, com todo meu coração)



Sabes T., queria ter-te dito o que vem a seguir, depois do choque de perdermos alguém.

 É um vazio absoluto. Ainda dou por mim no trabalho a emocionar-me do nada; ou antes, a emocionar-me deste vazio todo porque ainda não sei bem o que fazer com ele, nem este vazio todo sabe bem o que fazer comigo.

Ainda que não visse o M. todos os dias, ainda que não olhasse para ele todas as semanas, ele existia. E só por existir, o meu querido M. fazia o mundo ser melhor, mais respirável, mais puro.
Porque ele era genuinamente bom e genuinamente verdadeiro: há poucas pessoas assim hoje em dia.

E com aquela gargalhada boa que parte qualquer um de nós.

Continuo a falar no presente do indicativo, viste? Tu também vais fazer isso durante algum tempo até à altura em que te agarras à tua espiritualidade e à maravilhosa metáfora do Céu.

Eu acredito no Céu.


Um Céu mesmo, sabes? Tipo azul, com casas que são nuvens, anjos que se passeiam pelas ruas do Céu e te cumprimentam amorosamente - e anjas também - e se calhar as anjas apaixonam-se pelos anjos, enfim, essas coisas também devem acontecer lá pelo Céu.

 Acredito mesmo nisso. Que lá em cima deve ser mesmo bom e deve haver chocolate que não engorda a toda a hora …e lá há muita paz, sabes? Mas também há cafés e bares, certamente. E eles espreitam cá para baixo. Acho  mesmo que eles olham por nós e evitam-nos alhadas.

De qualquer forma, hoje deixo-te chorar e vestir preto.
Hoje podes chorar tudo o que tens direito, e depois amanhã também podes.
Depois podes bater com a cabecinha nas paredes a questionar tudo até ao momento em que sais do trabalho e vais ter com os teus amigos para celebrar: a vida, T, celebrá-la a Ela e a ele, e ao enorme privilégio de termos tido estas pessoas connosco um dia (somos uns sortudos do caraças, já pensaste bem???!!).

Quando pedires um gin ou uma cerveja – nesse dia depois do trabalho - faz um brinde com os teus amigos e olha para o céu erguendo o teu copo.

Tenho a certeza que o teu amigo anda por lá. Quem sabe já se esbarrou com o meu.
Promessa de Gretl!







domingo, 28 de maio de 2017

Módulo de Formação Teórico - "Falar em Público"


local: Associação Irmãos e Amigos de Farim
Formadora: Inês Leitão
Monte Abrãao
28 Maio 2017


Mulheres guineenses que um dia destes se tornam as maiores ativistas do Mundo e arredores.

#PROUD #WOMENPOWER #falarépoder



Dinâmica do Olhar

                                                   Dinâmica "Eu nos sapatos do Outr@"



quinta-feira, 25 de maio de 2017

Nunca te vou esquecer, Miúdo! - CAPAZES



Escrevi este texto quando o Maurício entrou em morte cerebral  e eu esperava um milagre, como o golo do Kelvin. Hoje ao reler, percebi que não alteraria uma linha.

Morreu um homem de exceção que faz uma falta do caraças.

Texto Capazes ler aqui





segunda-feira, 22 de maio de 2017

Pequeno-almoço






Um dia explicas-me. Um dia explicas-me porque é que te foste embora. Por que é que deixaste de existir ou por que é que nunca exististe a sério e te deixaste criar pela minha imaginação
(podias ter-me impedido de ter sido tão ridícula)

Um dia dizes-me por que raio eu.
Um dia explica-me.

Explica-me como é que te foste embora assim sem me levares agarrada a ti, como é que tiveste coragem de ir com a tua pele sem mim;  a deixares-me para trás, sentada na sala, quieta e perdida, a começar a morrer com saudades.

Daquelas saudades, sabes? Das que parece que abrem um buraco no peito para onde podes gritar como um poço: um poço preto e fundo, que de tão real podes andar a mostrá-lo ao médico e ao mundo. Que por existir, dá pena a quem o mostras, porque também eles já tiveram um poço igual a esse no meio do seu peito, no lugar onde costumava ficar o seu coração.

 Mas um dia o coração voltou a crescer-lhes e tapou o poço.
Dizem que é isso que acontece aos poços do peito. Não há cimento que os vença: só coração.



Por que é que me fizeste isto se não era para ser?
Se tu não nasceste e não era para ser.
Se tu nunca exististe e não era para ser.



quinta-feira, 11 de maio de 2017

Artigo - "Portugal Católico - A Beleza da diversidade"


A obra "Portugal Católico - A Beleza da diversidade" conta com um artigo de Inês Leitão sobre a Pastoral Penitenciária de Portugal.

Uma replica muito especial será entregue ao Santo Padre na sua vinda a Fátima a 13 de maio. #portugalcatolico #pastoralpenitenciariadeportugal







quarta-feira, 10 de maio de 2017

Dos dias Grandes




Dos dias grandes. Dos dias grandes em que acontecem coisas boas. Dos livros novos, daquilo que um livro novo pode trazer.
Dos dias grandes, do teu corpo e de mim. Das saudades que tenho tuas e minhas e das coisas que fazemos juntos quando o teu olhar fala comigo e me diz coisas bonitas
(o teu olhar diz coisas tão bonitas).

 Dos dias grandes em que citas poetas, dos dias grandes em que te vejo brilhar. Dos dias grandes em que alguém morre e tu és colchão da cama, o colchão que empurramos, agarramos e apertamos num desespero indizível.

Dos dias grandes, dos dias em que escrevemos textos só para sabermos que os dedos estão vivos e que o amor a sério é para pessoas grandes.

Dos dias grandes em que planeamos a vida e a vida sai ao contrário porque ela não gosta de ser planeada.

Dos dias grandes em que olho para ti e me vejo, dos dias grandes de uma casa e uma cadela.
Dos dias grandes que não trazem nem morte nem frio, dos dias grandes onde dançamos juntos com os teus pés.

Dos dias grandes que não têm fim e que são semente para outros dias grandes.

Dos dias grandes em que te tenho para mim, sem saber se mereço tanto.

E é isto.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Espero por ti logo para o almoço





Não há dia sem dor depois de ti,
porque a natureza do mundo mudou
e o mundo já não ri o teu riso.



O peixe foge do prato do almoço
(o garfo não o apanha),
a criança dorme aninhada no ninho da ratazana preta
e todos os bebés do mundo nasceram mudos.


 Os homens passam uns pelos outros
com as pernas apagadas debaixo das calças
sem corpo, só com a roupa vestida, sem corpo debaixo
-
Já não há gente por aqui, sabes?



Os candeeiros saíram das ruas,
desenterraram-se e andaram pela primeira vez,
estão fugir.


E deixou de haver caminho.


Todos os homens bons morreram ,
sem que ninguém saiba ao certo
 onde foi
que se esconderam.





domingo, 7 de maio de 2017

Da dor III


Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te. Enterrar-te.

Enterrar-te.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

2ª edição do livro - "O Padre das Prisões"




O livro "O Padre das Prisões" terá a sua 2ª edição no inicio do próximo mês de Junho em Lisboa.
Contamos com todos!






sexta-feira, 21 de abril de 2017

Documentário a caminho de França




O "Padre das Prisões" está selecionado como um dos filmes em competição no festival europeu de programas religiosos. É o primeiro documentário português a concorrer.

_______________________________

Dear Inês,

First of all, in the name of the Organizing Committee of the 19th European Television Festival of Religious Programs, I would like to thank you for having entered your film, thereby participating in this event alongside 70 other productions.
As announced in the rules and regulations, an international jury gathered in Paris from April 3rd to April 7th, 2017 to screen all the programs that had been entered. Their mission was to short-list the films that will be presented during the Festival. The qualities of your program caught their attention and I am delighted to inform you that your film, O padre das Prisões, has been selected to be screened during the competition.



terça-feira, 4 de abril de 2017

Hoje falemos de ti




Hoje falemos de ti.



Hoje falemos de ti,
das mãos que te nasceram do osso do ombro que quis ser braço:
para depois ser dedo no fim das mãos.



Hoje falemos de ti porque o inferno deve ser
o lugar onde a saudade mora, e hoje,
-espero que só hoje
há um inferno que espera por mim assim que me deitar.




Hoje falemos de ti
das tuas pestanas na cara,
 do teu nariz
das pernas que te cresceram da anca e te deram um joelho de homem.




Hoje falemos de ti
do que me sobrou de ti nas gavetas,
no meio dos livros, escondido nas estantes:
há partes tuas por lá, e minhas também.




Hoje falemos de ti
porque quando lavar a cara antes de dormir,
quero ter a certeza que viverei o meu inferno
 sem ti atrás das orelhas,
sem ti debaixo do nariz,
sem ti no saco que dá água aos olhos.



Sim, hoje falemos de ti.








sábado, 25 de março de 2017

A Magra que não há em mim - Plataforma CAPAZES




A ler aqui



De quando dizemos Nome


*Para S.


O nome que damos às pedras
não é o mesmo nome que damos aos dedos
- quando dizemos

d
e
d
o


nem o nome que damos ao corpo
- quando dizemos
c
o
r
p
o

nem língua
- quando língua é dita
l
í
n
g
u
a




O nome que te dou a ti não é o mesmo que dou às pedras
aos dedos
ao corpo
ou à língua



talvez porque todos os nomes do mundo
 sejam só isso: nomes.



Há uma hora no mundo em que o nome deixa de ser nome
e passa a ser uma parte de um braço
de um corpo
ou de uma pedra no rio

e tudo ocupa o seu lugar
- como se para tudo houvesse um lugar.



O nome é um lugar e quando é parte,
só ele habita o mar.






Adeus, Ophelia

  Querida Ophelia,  a tua morte foi a coisa mais difícil que vivi até hoje. Ter ficado contigo até ao último minuto dá-me um certo alento es...